sábado, 30 de julho de 2011

E nos seus olhos percebi o seu sorriso e sua dor!

O Meu Mar

Um oceano se forma
Transbordo de sentimento
Assim como enche, esvazia
Num momento
Numa lembrança
Sem resposta

Sabor diferente a cada gota
Felicidade, segurança
Ardor, perseverança, dor
Tristeza, desencantamento
Saudade terna e eterna
Maré incerta e traiçoeira

Há quem se inunde
Outros já secaram
Muitos evitam
Alguns se calam
Todos um dia mergulham

O oceano continua lá
Fluindo, inundando
Consolando e expressando
Diversas formas do sentir
Incessantemente em nossas lágrimas
.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Um apelo pela essência da cultura!

Aos "Mestres Amadores".


Certa vez eu vi um brilho muito peculiar nos olhos de pessoas que eu não conhecia, que não eram da minha convivência e, mesmo assim, me identifiquei com a emoção que elas sentiam. Era um sábado de feira, num concurso de sanfoneiros, no Mercado Municipal de Itaobim-MG(minha cidade natal), lá no Vale do Jequitinhonha. Lembro com carinho dessas pessoas e dessa festa.

O mercado municipal de uma cidade é sempre onde pessoas de toda região se encontram e, ali, mantém suas relações sociais e financeiras, em Itaobim isso não é diferente. Nesse dia de festa estava lotado e as pessoas mesmo tímidas foram se aproximando e, em pouco tempo, já havia se formado uma platéia. Era sanfoneiro de tudo quanto era lugar, do São João, do Córrego Novo, da Estação da Luz, do Povoado do Brejo, da cidade e muito mais... e começou o concurso!

Acreditem nem todos tinham uma sanfona para tocar e era com a sanfona dos concorrentes que eles competiam e se ajudavam. Essa cooperação me fez perceber que eles não estavam ali pelo prêmio, mas pela significância daquele movimento, eles eram apenas 16, em sua maioria senhores idosos, e não estavam aparecendo novos aprendizes, eles eram mestres solitários de um conhecimento "fora de moda".

Em pouco tempo já tinha torcida organizada e tudo, cada qual torcendo para o sanfoneiro da sua região ou do seu bairro. Muita dança, pessoas cantando, alegria e o que mais me impressionava, repito, era a emoção das pessoas em poder participar daquela festa que era simples, de uma cidade de interior, dentro de um pequeno mercado, onde era frequentado por pessoas modestas, nem sempre "letradas",mas muito sábias.
Em vários momentos, observando, vi lágimas nos olhos de muitos que assistiam. Lágimas de alegria, de paixão, de reconhecimento, lágrimas de saudade. Saudade essa dos tempos de criança, do pai cantarolando na porta de casa depois do dia de trabalho, saudade de como a vida era simples e muito sofrida, mas não tão complicada, não tão capitalista, saudade de uma vida que o motivo era estar bem e feliz e mais nada.

Infelizmente já não existe mais o concurso de sanfoneiros ou pelo menos ele não está mais acontecendo. Aquele foi o último e eu tive a honra de participar de perto, de ver o vencedor agradecer com lágrimas nos olhos, assim como estavam seus companheiros/concorrentes, pela oportunidade de trazer um pouco da cultura dele para as pessoas e de vê-las admirando sua música.

Como os sanfoneiros outras culturas populares estão enfraquecendo, perdidas no esquecimento dos mais jovens e seguras, ainda não sabemos por quanto tempo, na lembrança saudosa dos mais antigos, nos casamentos de quadrilhas juninas cada vez mais raros, na voz de toada fraca dos poucos que ainda as cantam, no salto vibrante, mas já cansado, do últimos legítimos catireiros, nas palavras fortes dos poetas regionais que de nada tem em técnica, mas sobram histórias e experiencias para serem contadas e entre tantas outras culturas populares que ainda persistem em existir.

À quem ainda tem essas culturas na memória resta a saudade e o sorriso no rosto ao relembrar momentos de felicidade, família e fé. À nós, nos resta fazer um pedido para as novas gerações:  "Oh Deus Salve o Oratório".